domingo, 10 de julho de 2011

O Reino do Sonho

Maverick caminhava lentamente pelos corredores. Às costas trazia a sua fiel espada quase tão grande como ele e trajava a sua habitual vestimenta com um sobretudo a terminar o conjunto. Mas ninguém reparava, não havia ninguém ali, os corredores estavam desertos. Não só desprovidos de pessoas, como do próprio som. Os passos não ecoavam, nem se ouvia a respiração. Um silêncio total. Não havia qualquer espécie de tocha ou candeeiro. O corredor emitia a sua luz. Estranha e pálida, criando sombras assustadoras.
- “Samanthae” – murmurou, após um longo grito vindo de longe.
Iniciou uma corrida pelos corredores. Iria encontrá-la. Perto do terceiro corredor, começou a ouvir uma leve música a flutuar na sua direcção. Encaminhou-se para uma porta dupla, de onde parecia vir. E acertou. O som ia-se tornando mais nítido à medida que avançava. O que o esperava do outro lado, no entanto, não era bem o que esperava.
Abriu as portas de rompante, e deparou-se com um baile. Se a luz do corredor era pálida, que dizer dos convidados? Cinzentos, sem rosto, dançando tão lentamente que mais pareciam sombras, ecos. Com cautela, Maverick entrou no salão. Andou entre os convidados, não precisando de se esforçar, pois estes afastavam-se naturalmente. Mesmo ali dentro, a música parecia vir de outra divisão.
A meio do salão, deparou-se com aquilo que procurava. “Samanthae” - pensou, observando a sua amada parada, de costas voltadas para ele.
- “Samanthae.” – Chamou, mas esta não reagiu.
Avançou na sua direcção, chamando por ela. Quando estava suficientemente perto, meteu-lhe a mão no ombro e, virou-a para a encarar. O susto fez-lhe tropeçar e cair. No lugar de Samanthae estava uma mulher desfigurada.
- “O que fizeste com ela? RESPONDE!”
- “Eu não sou quem procuras?” – Dizia com deleite. – “Mas tu és quem eu procuro, Ha-ha-ha…” – A voz foi-se tornando cada vez mais grossa enquanto que a mulher se transformava num demónio. Um ser gigante de outro mundo. Que o encarava agora nos olhos.
- “O meu mestre deseja muito a tua morte, Maverick.”
- “Pois então dá o teu melhor, demónio!” – Disse, desembainhando a sua espada.
O demónio riu-se e desferiu o primeiro golpe. Maverick viu a mão gigantesca na sua direcção e, com uma agilidade sobre-humana, desviou-se. O embate fez o edificio tremer, rachando o chão. Levantando a mão, o demónio repetiu o movimento.
- “Se fores tão fraco como és lento, isto não será divertido.”
- “NÃO GOZES COM O PODER DE ONUR!”
A besta enfurecida, lançou um grito que empurrou Maverick contra a parede. A sala era agora só deles. Os convidados tinham desaparecido.
- “Ora, ora… Vamos dançar, demónio.”
Maverick investiu contra Onur de espada em riste. O embate foi violento, mas não provocou danos.
- “Tens que fazer melhor que isso, pequeno Dovean.” – Disse, sorrindo com prazer.
Com uma tacada rápida, Onur atirou Maverick contra as portas duplas, atirando-as contra a parede do corredor. Maverick levantou-se e encarou o demónio que investia sobre ele novamente. Com a calma dos Dovean, levantou-se e esperou o demónio aproximar-se. Um movimento rápido, um ressalto na parede, e desferiu um golpe. O braço de Onur foi atirado para longe. Sangue jorrou do coto, cobrindo os mosaicos brancos, de preto.
- “Volta para o teu mundo criatura degenerada.”
Nova investida e Maverick cravou a espada no abdómen do monstro. Contudo a sua reacção foi lenta, e foi atirado de novo contra uma parede. Onur riu-se. Um novo braço regenerou-se. Ostentava agora uma máscara de fúria.
- “Morre, Dovean!”
Maverick sorriu e tirou as suas pistolas dos respectivos coldres. Apontando ao demónio disparou. O som dos disparos encheu a sala. Bala após bala penetrou a carne do demónio. Mas este não arredou pé. Maverick correu na sua direcção e quando se encontrava a poucos passos, Onur esmurrou o chão novamente. Desta vez, espinhos afiados saíram e Maverick ficou suspenso no ar. Grandes espinhos de aço atravessando o corpo em diversos pontos.
Sangue escorreu pelos espinhos. O demónio riu-se. Estava terminado.
- “É preciso mais que isto para me matar, Onur.” – murmurou.
- “O quê?!” – Onur ostentava uma expressão de incredibilidade. – “Como–”
- “Como é que ainda respiro? Se sabes o que sou, também sabes que os Dovean não morrem.”
Maverick partiu os espinhos e investiu sobre Onur, ainda em choque. Com um salto, retirou a espada presa ao peito do demónio e cortou-lhe a cabeça. Um grito agudo encheu a sala, o corpo incendiou-se e, o silêncio reinou novamente.
- “Samanthae.” – Murmurou.
- MAVERICK!”
- “Samanthae?” – Olhou para cima e viu. Bela e pálida, como aquele maldito mundo. Lá estava ela, num simples vestido cinzento.
- “É disto que andas à procura?”
Um segundo demónio materializou-se por detrás de Samanthae, prendendo-a.
- “Liberta-a!”
- “Não. Acho que a vou guardar mais um bocado. Queres? Pois sobe Dovean e vem buscá-la!”
- “Maverick!” – Suplicou, de novo, a mulher presa.
Dito isto, o demónio abriu um portal. Gritos de dor e sofrimento encheram a sala. “Que mundo é aquele?” Com um último olhar sobre Maverick, atravessou o portal, levando Samanthae consigo.
Maverick, destroçado, embainhou a espada e correu em direcção ao portal. A intensidade dos gritos aumentaram. A dor era tangível. Tinha que a salvar.
- “SAMANTHAE!” – E a luz envolveu-o.

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