domingo, 10 de julho de 2011

Um ataque ao acampamento.

Era uma noite clara de Inverno. As árvores dançavam ao sabor do vento gélido vindo do norte.
Krunks, sentado no cimo da escarpa, observava o acampamento dos homens em baixo. Estavam a celebrar a sua recente vitória contra os Trolls das montanhas circundantes. Música e bebida faziam companhia à grande fogueira que centrava o acampamento.
- “Humanos patéticos.” – Murmurou. – “Celebrem enquanto podem, pois Eu, irei arrancar a felicidade dos vossos corações e entregá-la à NOITE!” – Gritou.
O campo agitou-se lá em baixo. A música parou. Os homens, paralisados pelo medo, olhavam atordoados para o que os rodeava.
- “Que foi aquilo?” – Perguntou um.
- “Pensava que os tínhamos morto a todos… Agora temos também que lutar com fantasmas?” – Inquiriu outro.
- “Não são fantasmas…” – Esclareceu o capitão. – “Aos vossos postos homens, esta noite, não há luz. Esta noite… lutamos contra o Mal.”
Obedecendo às ordens do seu superior, os soldados pousaram a bebida, vestiram-se e pegaram nas suas armas. Os cavalos foram escondidos nas sombras, num mato perto dali, enquanto que a fogueira foi alimentada. Pequenos fogos foram acendidos em redor do acampamento. O que quer que viesse, seria visto muito antes de ser preciso desferir o golpe. Ou assim pensavam.
Krunks olhava divertido para a actividade que tinha provocado no acampamento. “Em breve, em breve…” – pensou, enquanto permitia que um sorriso de prazer lhe distorcesse as feições. Levantou-se para iniciar a descida quando um movimento o fez parar. Algo fazia mexer os arbustos à sua volta, e não era o vento…
- “Vieste-te divertir, elfo?” – Perguntou Krunks, impaciente. Já estava farto daquela esquiva criatura, que o perseguia há já tempo de mais.
- “Ana’lorNeurdan” – Cumprimentou um elfo, enquanto saltava de uma árvore. Era alto, pálido, com cabelo e olhos azuis. Trazia umas vestes simples e, no cinto, uma adaga. – “Vim observar-te.”
Krunks sorriu. – “Estás longe dos teus. Não viajas tanto só para me observar.”
- “Perspicaz… E ao mesmo tempo, ignorante… Contudo, sou apenas uma sombra no teu caminho, Neurdan”
- “De facto, apenas uma sombra.” – Retorquiu Krunks.
Dito isto, virou costas e retomou o seu caminho. O elfo acompanhou-o, cantarolando baixinho na sua lingua. De repente, emitiu um som como se tivesse engasgado. Tentou falar, mas não conseguiu. Krunks sorria maldosamente.
- “Uma sombra. ” – Disse enquanto prosseguia o seu caminho sem lhe prestar atenção.
O elfo, apercebendo-se do que Krunks fizera, retomou a marcha silenciosa que seguia o caminho em direcção ao acampamento.
***
Em baixo, batedores embrenhavam nas sombras e traziam a correr, noticias ao capitão. Nada. Não havia sinais de qualquer actividade para além do alvoroço no acampamento. Os soldados estavam nervosos, sem saber o que esperar. Uns baixavam as armas, embainhavam as espadas, pousavam os elmos, para logo a seguir retomarem as posições de vigia, alertados pelo barulho de passos que se revelavam ser os batedores.  A noite ia alta e as primeiras nuvens cruzavam agora o céu, tapando a lua por curtos períodos de tempo.
- “Continuamos sem sinais, senhor.” – Quantas vezes já não teria ouvido o capitão aquela mensagem hoje. Demasiadas vezes. “Mas onde andará ele”, - pensava, perguntando-se logo a seguir, quem seria o autor daquele grito. Um grito frio, cheio de ódio… um grito de morte. Algo interrompeu os seus pensamentos, trazendo-o ao presente.
- “Senhor…” – Chamou o recém chegado.
O Capitão grunhiu enquanto o focava. Era mais um batedor.
- “Encontrámos algo… Pegadas…” – Disse receoso.
- “Pegadas? São humanas? São dele?” – Inquiriu, com a esperança de que o batedor soubesse dizer quem ele era.
- “Quanto a isso… Não sabemos ao certo.. estamos confusos.”
- “Confusos? São só pegadas! Pelo Rei! Leva-me lá!” – Ordenou.
O capitão acompanhou o soldado para fora da tenda e do acampamento. A escuridão começava pouco depois da linha de fogos. Após alguns metros num passo irregular devido à falta de luz, depararam-se com a orla de uma floresta. O silêncio reinava ali igualmente, perturbado apenas pelo vento na copa das árvores. Viram-se forçados a acender uma tocha pois a lua continuava escondida. Caminharam ao longo da orla até se depararem com um rasto.
- “Mas isto, são… Pegadas de elfos? AQUI?” – Inquiriu o capitão.
- “Assim parecem, senhor.” – Confirmou o soldado. – “O que, como pode imaginar, levantou muitas ques…”
Foi interrompido pelo súbito luar que irrompeu do céu. Não estavam sozinhos. À sua frente encontrava-se um elfo e… a escuridão.
No acampamento ouviram-se os gritos dos dois homens. Os soldados, aterrorizados voltaram aos seus postos.
- “Onde está o capitão?” – Perguntavam alguns. Enquanto outros gritavam – “Aos vossos postos!”
***
- “Eu disse-te que a lua não se rege pelas vossas leis.” – Disse Krunks com um olhar trocista perante a perplexidade do elfo.
O elfo não fez caso e examinou o que restava dos corpos. Estavam irreconhecíveis. Completamente desprovidos de luz.
- “Técnica nova Neurdan?” – Perguntou o elfo.
- “Uma pontada artística.” – Respondeu maldosamente.
Krunks avançou, mas reparando que o elfo não se movia, encarou-o.
- “Tu vens comigo elfo. Vais observar tudo e depois juntar-te-ás a eles. Sim, porque acho que já passaste tempo demais longe dos teus.”
Voltou costas ao elfo e continuou caminho. O elfo acompanhou-o. Não por livre vontade, mas porque as pernas já não lhe obedeciam. Krunks murmurava um feitiço enquanto caminhava. Estavam perto do acampamento.
No acampamento os homens olhavam perplexos os fogos diminuírem de intensidade enquanto a escuridão se adensava. Como poderiam lutar aquilo? Petrificados e sem liderança, largaram as armas e começaram a correr no sentido oposto, com uma única ideia em mente: Fugir do que aí vinha.
Krunks chegou à beira do acampamento e olhou com deleite para o caos instaurado. Um riso maníaco juntou-se à confusão de gritos enquanto Krunks se elevava. Dos céus irrompeu uma chuva de fogo que devastou o acampamento. Criaturas aladas de fogo iniciaram uma perseguição. Voando atrás dos soldados, reduziam-nos a cinzas e metal derretido.
Quando o elfo voltou a abrir os olhos, tudo tinha acabado. Um cheiro acre a carne queimada enchia o ar. Krunks tinha devastado tudo. A própria terra estava negra, para sempre marcada. Após uma curta vista de olhos, deparou-se com o olhar de Krunks.
- “Uma pequena sesta antes do sono eterno?” – Zombou Krunks. – “Silêncio!” – Repreendeu quando o elfo se preparava para falar. – “Já não vou ter que ouvir mais a tua doce voz, elfo.”
O elfo lutou, mas em vão. Estava preso e sabia o fim que Krunks tinha reservado para si.
- “Está a amanhecer.” – Disse Krunks, olhando para o horizonte, onde começava a clarear. – “Ou isso, ou alguém entrou em combustão.” – Comentou rindo-se. – “De qualquer maneira, quero ir-me embora, por isso, vamos lá despachar isto.”
Krunks levantou-se e erguendo os braços abriu um portal de onde saíram três cães infernais. Os cães, bestas enormes, suficientemente grandes para igualarem os homens do norte, olharam para o elfo.
- “Apanhem-no rapazes!” – Disse enquanto mandava o elfo ao ar e, virando costas, afastava-se rindo.
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Ana’lor Neurdan – Saudações Escuridão, em élfico.

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