domingo, 10 de julho de 2011

Assassino!

O fogo crepitava alegremente na lareira, ignorando o ambiente de tensão que se tinha instaurado na pequena sala de jantar.
Quatro homens ocupavam as cadeiras em redor da mesa, enquanto que o resto do grupo se dispunha, confortavelmente, nas sombras.
-”Não podes cancelar o negócio agora, mercador.” – Disse Skoldar, sentado à mesa, dirigindo-se para os três homens à sua frente.
O mercador, começando a suar devido ao nervosismo, gaguejou: -”M-Mas tu não p-percebes… Os teus serviços já n-não são…” – Apesar de ladeado pels seus dois fiéis guarda-costas, vacilou perante o olhar ameaçador de Skoldar.
-”O plano está já em marcha, Jester.” – Declarou Skoldar – “Sugiro que pagues o resto ou acidentes poderão, enfim… surgir.” – Ultimou com um sorriso.
Jester encarou-o, avaliando as suas hipóteses.
-”Muito bem então…” – Acedeu- “Amanhã terás o teu dinheiro.”
Um dos homens emergiu das sombras abrindo a porta que dava para o corredor da estalagem.
- “Até breve, Jester” – Despediu-se Skoldar enquanto voltava costas e, contornando a mesa, se dirigia para o calor da lareira.
Jester acenou e, seguido pelos seus guarda-costas, abandonou a sala com rapidez.
- “Achas que ele cumprirá com a sua parte Skoldar? – Perguntou Curn
- “Oh sim, Curn! Ele irá pagar… E vai-lhe custar!” – Acrescentou com fúria.
***
- “Porque não foge, senhor?” – Perguntava um dos guarda-costas.
- “Porque…” – Disse Jester, enquanto abandonava a estalagem – “Iria sair-me francamente mais caro do que um punhado de moedas. Rypot, não se brinca com os Assassinos.” – Acrescentou.
Rypot anuiu silenciosamente.
- “Agora, para casa!” – Ordenava Jester, enquanto subia para o seu cavalo – “Que amanhã, espera-nos um grande dia.”
Os guarda-costas, seguiram-no e passado pouco tempo, cavalgavam os três, noite fora, em direcção à casa senhorial de Jester.
***
Os primeiros raios da manhã iluminaram as copas das árvores. Galhos secos estalavam, aqui e ali, denunciando a presença dos Assassinos.
Curn aproximou-se de Skoldar. Ambos usavam pesadas capas cobertas de folhas, por cima da usual vestimenta preta.
- “Mane ainda não voltou.” – Constatou Curn. – “Achas que poderá…”
- “Ter sido apanhado? Dificilmente!” – Interrompeu Mane com uma pequena gargalhada. Tal como o resto do grupo, também ele possuia a pesada capa e a vestimenta escura. – “Fui como a sombra da noite e volto com o despertar do dia que, como não podia deixar de ser, traz boas novas para vos aquecer.” – Terminou com um sorriso de regozijo.
- “Alegra-me ver-te outra vez.” – Declarou Skoldar. – “Diz-me então, que notícias trazes para nós?”
Mane desceu da árvore onde estivera empoleirado, divertido com o desconforto dos outros. – “Tal como eu, também os escravos andam depressa quando vêm o sol nascer.” – Disse. De seguida, olhou para sul, de onde a estrada vinha, para logo anunciar: – “Estarão aqui dentro de dez minutos.”
- “Esplêndido!” – Exclamou Curn, voltando à sua posição.
O grupo manteve-se silencioso e imóvel, aguardando a razão daquela longa espera.
Tal como Mane previra, o som de cascos e gemidos fez-se ouvir acima do barulho das árvores, agitadas pela brisa matinal.
Ao fim de algum tempo, uma carruagem puxada por dois magnificos cavalo apareceu no seu campo de visão. “Aqui estás tu”, pensou Skoldar.
O coche tinha poucos adornos e era escoltado por alguns soldados, equipados com cotas de malha e longas espadas,  e por escravos de tronco nú. Ambos os grupos ostentavam o brasão da Familia que serviam; os guardas gravado a ouro nas vestes, enquato que os escravos no peito nú, queimado na carne.
Do interior, vozes animadas riam-se e conversavam, alheias ao que se passava no exterior.
- “Que dizeis, damas minhas? Uma paragem para o doce sabor da água cristalina da Floresta de Ruin?” – Perguntava o homem gordo de ricas vestes que viajava dentro do cochecom duas donzelas igualmente bem vestidas.
- “Uma excelente ideia, Lorde Hurbe!” – Respondeu uma das donzelas, abanando um pequeno leque.
- “E vós, minha cara Dora? Concordais com a nossa ilustre Mariana?” – Dirigiu-se Hurbe à outra donzela.
- “Certamente, Lorde.” – Retorquiu contrariada. – “Nada como um refresco e um pouco de ar, nesta bonita manhã primaveril.”
- “Está decidido en…” – Contudo, Hurbe foi interrompido pela paragem repentina – “Mas que diabo?”
- “Não me demorarei.” – Tranquilizou-as enquanto abandonava o coche, fechando a porta atrás de si.
Um choque ao olhar para os seus soldados fê-lo falhar o último degrau, estatelando-se no chão.
- “Eu ia avisá-lo, Lorde.” – Zombou Mane. – “Mas parece-me que, mais uma vez, a gravidade levou a melhor.”
O grupo de Assassinos riu-se enquanto os escravos, num passo relutante, corriam a levantar o seu senhor.
- “Quem pensam que sois?” – Vociferou Hurbe, depois de cuspir porções consideráveis de areia. – “Acaso sabéis quem sou? Eu sou Lorde Hurbe, e estes escravos são meus!” – Gritou, enquanto pontapeava um escravo, evitando ao máximo olhar para os seus soldados que jaziam mortos.
- “Nós, somos mensageiros. Viemos entregar-lhe uma mensagem.” – Disse Skoldar enquanto atirava um rolo de papel para Hurbe. – “E receber a nossa recompensa.”
Hurbe desenrolou o papel e deparou-se com a sua própria cara a olhar para si, prometendo mil moedas de ouro pela sua cabeça.
As pernas de Hurbe vacilaram. – “Quem? …”
- “O mundo já não necessita dos seus serviços.” – Esclareceu Curn.
Hurbe, apercebendo-se do movimento do grupo que o rodeava, empurrou os escravos contra os Assassinos, abrindo uma pequena passagem, por onde fugiu para a floresta, correndo o mais rápido que conseguia.
- “Cinquenta moedas, em como sou o primeiro a caçá-lo.” – Disse Mane enquanto iniciava a perseguição.
- “Cem moedas!” – Gritou outro.
***
A floresta era demasiado densa e Hurbe encontrava obstáculos a cada dois passos. Era dificil, mas à medida que avançava ia reparando que o número de árvores ia diminuindo enquanto que o espaço entre elas aumentava.
Depois de correr o mais que pode, entre tropeções e arranhões, Hurbe deparou-se com o fim. A floresta terminava numa ravina. Em baixo, a fúria do mar investia contra a escarpa.
Hurbe voltou-se, a tempo de ver os seus perseguidores emergirem da floresta.
- “Fim da linha!” – Exclamou alguém, divertido.
- “Não! Mensageiros, hein? Pois ouvi-me bem!” – Gritou Hurbe. – “O mundo pode não precisar mais de mim, mas será o mundo a levar-me, e não um bando de reles mensageiros!” – Dito isto, encarou o mar revolto e mergulhou, de encontro ao seu fim.
Skoldar cravou uma estaca de ferro no chão, à qual amarrou uma corda. - “Oh não Hurbe. Eu vou levar-te!” – pensou, enquanto mergulhava atrás da sua presa.

Sem comentários:

Enviar um comentário